A Igreja Universal do Reino de Deus inaugura às 10 horas deste domingo, 4, um templo com capacidade para cinco mil fiéis. Até agora, a organização ainda não confirmou se o fundador da IURD, Edir Macêdo, virá a João Pessoa para as solenidades de abertura da “catedral da fé”, que demorou dois anos para ser erguida. Hoje, contudo, o arcebispo da Paraíba, Dom Aldo di Cillo Pagotto lançou uma nota denominada “A fé mercantilizada”, na qual critica aspectos da igreja capitaneada por Macedo.
Leia a íntegra da nota:
Nota oficial
Inaugura-se na capital paraibana mais um dos suntuosos templos da autodenominada “Igreja universal do reino de Deus”. A proliferação desse e de outros grupos congêneres deve-se às promessas propaladas por seus líderes, induzindo o povo de boa fé a alcançar a prosperidade material em formas imediatistas.
Mantendo plantões de atendimentos, atraem pessoas que buscam respostas para os seus problemas emocionais e financeiros, como num pronto-socorro espiritual. Independente da confissão religiosa particular, evangélica, católica, espírita ou livre-pensadora, as pessoas acumuladas de problemas são orientadas a freqüentar sessões de doutrinação, curas, exorcismos e “descarregos”. Seguidamente, poderão adquirir artigos que atraem graças celestiais, encontrados como ofertas do dia nas tais sessões, ou no shopping da igreja.
Devem depositar sua confiança nas dádivas celestiais estando de posse desses objetos que chamam prosperidade material. Diante de prementes carências, pessoas não esclarecidas, sem acompanhamento em uma comunidade de fé e vida, em breve tempo, tornam-se adeptas desses grupos religiosos, submetendo-se à expulsão das maldições e desgraças que atrasam suas vidas. São, porém, induzidas a contribuir com coletas. Essa condição é inegociável, demonstrando assim, sua confiança em “Deus”. Ora, quando sofremos, nossa tendência é buscar soluções milagrosas, mesmo sabendo que podemos ser explorados.
Como explicar que templos suntuosos são construídos em tão breve espaço de tempo? Por certo rola muita grana nas mãos dos “servos e obreiros”. Episódios ligados à corrupção política e a escândalos financeiros foram fartamente comentados através da mídia. Quem não se lembra das malas cheias de dinheiro em mãos de “pastores”?
Interpretamos o aumento de certos grupos religiosos, primeiramente, pela ausência ou omissão, junto a pessoas e locais de carência, tanto da Igreja Católica, quanto de outras confissões evangélicas, de tradição protestante. Há situações de sofrimentos que incluem a falta de assistência e serviços sociais, especialmente nas áreas da saúde e da capacitação para o trabalho.
A mercantilização da fé, altamente rentável, é um fenômeno moderno. A fé tornou-se um insumo negociável barganhada por prosperidade material. Daí a expectativa de curas, libertação de doenças, resolução para encrencas sentimentais, explorando superstições, vinculando-as aos símbolos religiosos, atraindo pessoas não esclarecidas.
A história traz tristes exemplos de comercialização da fé, usando o nome de Deus em vão, defendendo ideologias, privilégios, poderes temporais. Sempre surge um “bezerro de ouro” em torno do qual o povo se consola com pão e circo. A sina do “deus dinheiro” acompanha as ambições humanas. A fé mercantilizada gera muita grana, ostentando força e poder, atraindo os que
estão à procura de realização pessoal. Os que se “enricaram” com malas cheias de dinheiro foram absolvidos. O deus dinheiro é poderoso… Mas Jesus Cristo condena o acúmulo financeiro quando este não gera vida e rompe a comunhão solidária e fraterna. (Leia Lucas, capítulo 16).
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