Cristãos aterrorizados do distrito de Kandhamal, Estado de Orissa, já assolados por mais de dois meses de violência, prepararam-se para mais ataques, após a morte a tiros de um trabalhador da organização extremista hindu Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS) por maoístas.
Acredita-se que Dhanu Pradhan era um ativista da RSS que estava na lista-negra dos maoístas. A polícia disse que ele foi morto por três suspeitos maoístas no vilarejo de Kumharigaon, em Kandhamal, às 13 horas do dia 5 de novembro, relatou o The Indian Express.
A pior onda de violência da Índia moderna começou no distrito florestal de Kandhamal em 24 de agosto, um dia após o assassinato de Laxmanananda Saraswati, líder da organização extremista hindu Vishwa Hindu Parishad (Conselho Hindu Mundial ou VHP).
Embora um grupo maoísta tenha admitido ter matado Saraswati e quatro de seus assessores, o VHP culpou os cristãos pelos assassinatos. A onda de ataques violentos prosseguiu sem pausa por mais de dois meses, destruindo pelo menos 4.500 casas e igrejas no distrito.
De acordo com um relato de uma equipe de investigação do Partido Comunista, mais de 500 pessoas, a maioria cristã, podem ter sido mortas pela violência no distrito de Kandhamal nos meses recentes. O relato também sugeriu que o governo estadual tenha subestimado e encoberto provas de mortes não-relatadas.
“O número oficial de mortes divulgado foi 31. Entretanto, um alto funcionário do governo, sob a condição de anonimato, informou que ele mesmo expedira 200 corpos para serem queimados, após terem sido encontrados na mata e coletados por um trator”, diz o relato do Partido Comunista Marxista-Leninista da Índia (CPI-ML).
De acordo com o relato, o funcionário anônimo estimou que, baseado na intensidade e velocidade dos assassinatos, o número dos que morreram foi mais de 500. A equipe de investigação visitou o distrito de Kandhamal no período de 15-16 de outubro e publicou seu relatório na edição de 27 de outubro da publicação oficial do partido, Liberation.
O relatório, assinado pelo membro do CPI-ML J.P. Minz, disse também que os extremistas hindus devem ter usado a máquina do Estadol para “minimizar a prova e possivelmente destruir os corpos dos mortos”.
Dr. John Dayal, membro do Conselho de Integração Nacional do Governo da Índia, disse à agência de notícias Compass Direct que o relatório era chocante, mas não surpreendente.
“Eu tenho registrado as informações de grupos de igrejas”, disse ele. “Até mesmo a Casa do Bispo em Bhubaneswar tem sustentado que há milhares de refugiados escondidos em florestas, muitos deles com ferimentos de diversos graus de gravidade”.
Dayal disse que as pessoas devem ter sido mortas nas florestas. “Até nos campos vizinhos aos vilarejos, tem-se descoberto corpos”, acrescentou.
A equipe de investigação relatou que os muitos ataques, atos de vandalismo e assassinatos ocorreram “diante dos olhos da polícia, que permaneceu como uma espectadora muda”. Pelo menos 200 vilarejos cristãos e 127 igrejas e salões de oração foram destruídos ou queimados, acrescentou a equipe.
Vítimas em muitos campos de refugiados disseram à equipe de investigação que o VHP e sua ala jovem, Bajrang Dal, eram os responsáveis pelas tensões e pela violência.
“Eles costumavam organizar reuniões entre os membros da tribo Kandha e incitá-los a atacar as vilas cristãs, provendo também fundos para isso”, disse o relatório.
Dayal disse que a Suprema Corte da Índia deveria agir com base nas descobertas do relatório.
“Grande terror”
O CPI-ML relatou que os cristãos continuam a experimentar “grande terror” e que os grupos nacionalistas hindus estavam exigindo a retirada do pessoal de segurança enviado pelo governo federal para conter a violência.
“As vítimas do tumulto estão com medo de voltar para seus vilarejos porque foram ameaçadas de que, se retornassem, seriam cortadas em pedaços”, disse o relatório. “Os desordeiros também estão declarando que apenas os convertidos ao hinduísmo terão permissão para retornar. Em contrapartida, os responsáveis pelos campos de refugiados estão pressionando as vítimas do tumulto para retornar para seus vilarejos, dizendo que a vida já está normalidade e a paz está de volta.”
O The Indian Express relatou que cerca de 250 vítimas do tumulto que se refugiaram nas áreas de Meliaputti e Mandasa, recusavam-se a voltar para seus vilarejos por estarem “com medo”. Meliaputti e Mandasa são do distrito de Srikakulam, nas proximidades do Estado de Andhra Pradesh.
“Não menos que 109 pessoas de 35 famílias das áreas de estão residindo em Andhra Pradesh, desde o início da violência de Kandhamal”, disse o jornal, acrescentando que mais 140 tinham se abrigado no vilarejo de Kumudhisingi, na área de Mandasa.
De acordo com as autoridades do distrito, em Kandhamal, há 12.641 pessoas afetadas pela violência em sete campos de refugiados.
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