Sob o escaldante sol africano, Ana Graça atravessou correndo o pátio da casa de chá. Os convidados estavam chegando, e ela precisava providenciar para que tudo estivesse em ordem. Enquanto ajeitava algumas pinturas e painéis, seus olhos pousaram em um pedaço de cerâmica negra. Em grandes letras brancas, ela leu: "Pela graça de Deus, sou o que sou".
Ana Graça, melhor que ninguém, conhecia a verdade por trás dessas palavras. Elias fora construtor profissional nos primeiros anos do casamento, mas Deus, com seu amor, apossou-se dele, e ele tornou-se pastor no início dos anos 80. Agora ele era bispo, supervisionando 30 pastores e 27 congregações na região.
Em pouco tempo, os convidados chegaram. Silenciosamente, ela serviu-lhes o chá, deixando a maior parte da conversação por conta de seu marido. Sua tarefa era informar os visitantes sobre a situação atual no Sudão, o maior país da África.
Após umas poucas palavras, uma senhora dirigiu-se a Ana Graça e perguntou-lhe: "Você poderia nos contar a respeito das dificuldades que encontrou em seu ministério junto às mulheres?".
Elegante, em seu vestido de algodão amarelo e marrom, com seus cabelos negros formando tranças que se enrolavam harmoniosamente sobre sua cabeça, Ana Graça era o retrato da dignidade africana. Até aquele momento, ela nada dissera, mas não precisou pensar muito para responder. "Quando observo minha vida em retrospectiva, não vejo nada que tenha vindo com facilidade", disse ela aos visitantes. "Tudo o que fiz foi sempre em meio a dificuldades."
Infância em um país devastado pela guerra
A guerra civil no Sudão começara mais de dez anos antes do nascimento de Ana Graça. Seu pai era professor e conseguiu assegurar o sustento de sua numerosa família.
Durante a juventude, as sementes da mensagem cristã do evangelho lançaram raízes em seu coração. Ela começou a entender o que Jesus havia consumado na cruz do Calvário e decidiu que, acontecesse o que acontecesse, queria seguir e servir o Senhor.
Então, sobreveio a tragédia. Seu pai beirava os 50 anos, mas caiu doente e teve de deixar seu trabalho. A família, impotente, viu-o ficar cada vez mais fraco e, em pouco tempo, completamente acamado. A despeito das orações de sua família e de todos os tipos de tratamento, ele faleceu, aparentemente por colapso cardíaco.
Um casamento abençoado
Aos poucos, o sofrimento de Ana Graça pela morte do pai foi diminuindo. A igreja que sua família freqüentava na Província Central de Equatória era cheia de vida e repleta de jovens. Lá, ela encontrou o pastor Elias, o amistoso ministro dos jovens.
Foi uma agradável surpresa quando Elias apresentou-se à sua mãe e pediu Ana Graça em casamento. Em virtude da guerra civil e da terrível situação econômica do Sudão, passaram-se quatro longos anos antes que Elias e Ana Graça pudessem finalmente casar-se.
Ana Graça tinha boas razões para estar feliz. Diferentemente de outras mulheres de seu país, ela sabia que seu marido a amava. "Você será minha para sempre", disse-lhe Elias enquanto, carinhosamente, levantava-lhe o rosto entre suas mãos. "Ninguém jamais a tirará de mim!".
A despeito das palavras otimistas de Elias, ambos, ele e Ana Graça, sabiam que em várias áreas de seu imenso país, mulheres e crianças eram seqüestradas pelos invasores árabes, ou por homens de tribos africanas, e levadas como escravas.
Pregando o evangelho
Elias ficava cada vez mais ocupado com seu ministério e trabalho na comunidade. Ana Graça, sempre que podia, acompanhava-o em viagens, porém, usualmente, ficava sozinha em casa. Agora, muitos de seus irmãos já se encontravam casados. Ao observar seus sobrinhos pequenos, era difícil não sentir inveja. Crianças eram um símbolo de prosperidade no Sudão, e Ana Graça perguntava-se por que Deus não respondera a suas orações e ainda não lhe dera um filho.
Por volta de 1990, a guerra civil no Sudão intensificara-se dramaticamente. Certo dia, Elias recebeu uma informação confidencial de que era iminente uma enorme batalha entre o governo e o SPLA. Ele disse a Ana Graça: "Rápido, arrume algumas roupas e comida. Precisamos sair da cidade".
Por mais que quisesse protestar, Ana Graça sabia que seu marido estava certo. Certamente era muito perigoso ficar. Muitos de seus vizinhos já haviam fugido para a mata, e Ana Graça e Elias, caso não saíssem agora, talvez não tivessem nova oportunidade.
Eles saíram a pé, e Ana Graça, corajosamente, tentava acompanhar os passos apressados de seu marido, caminhando por horas em meio aos arbustos espinhosos. Após horas de caminhada, Elias cortou um pouco do capim que dava no local e arrumou no chão. Naquela noite, essa seria a cama deles. Demasiado cansada para pensar ou lamentar, Ana Graça caiu adormecida. Todavia, quando o sol alaranjado do amanhecer acordou-a no dia seguinte, ela teve de encarar a dura realidade. Agora, Ana Graça e Elias podiam considerar-se parte dos milhões de pessoas desalojadas, os refugiados sem moradia.
Após encontrarem um acampamento de refugiados, eles se deram conta de quantos novos desafios enfrentaram. Eles nunca haviam vivido na mata. "Graças a Deus, Ele jamais nos deu um filho", pensava Ana Graça de vez em quando. "Ele sabia o que estava fazendo. Ele podia ver o que estava adiante."
Chamados a servir
Dando-se conta de que poderiam passar-se anos antes que pudessem retornar para casa, eles mudaram-se para um povoado perto da divisa com o Congo, chamado Laso.
Certa tarde, os soldados chegaram a Laso. "Onde está o Pastor Elias?", perguntou um deles. Quando Elias chegou, eles foram logo ao ponto. Disseram: "Precisamos de sua esposa. Nós vamos dar a ela treinamento militar. Ela retornará daqui a 21 dias". Elias não teve alternativa a não ser deixar Ana Graça ir.
Vinte e um dias passaram-se, mas Ana Graça não retornou para Elias. Ao contrário, o exército levou-a para a linha de frente, próxima a Juba e Torit, onde ela foi submetida a treinamento militar junto com os homens. Talvez o SPLA imaginasse que precisava proteger as informações confidenciais que Ana Graça tinha absorvido, mantendo vigilância sobre ela 24 horas por dia.
Ana Graça estava quase morta, emocional e fisicamente, mas seu espírito estava bem vivo. Seu relacionamento com Deus a mantinha caminhando. "Jesus, ajude-me!", pedia ela várias vezes ao dia, determinada a manter seus olhos no Senhor e não nas circunstâncias que a rodeavam.
Mesmo quando as tropas chegaram a seu destino, a vida de Ana Graça não foi facilitada. Ana Graça era miúda e propensa a doenças, em nada talhada para ser um soldado, mas, ainda assim, aprendeu a lutar junto com os homens. Ela odiava ser treinada para atirar em outras pessoas e ficou agradecida por realmente nunca ter atirado em ninguém. Embora diversos homens do exército fossem cristãos dedicados, a brutalidade de alguns dos outros soldados a deixava horrorizada.
Certo dia, ela clamou: "Senhor, não posso mais fazer isto! Por favor, tire-me daqui!", Não fora certamente a primeira vez que fizera aquela oração. Contudo, após longa espera, ela estava a ponto de ver a resposta de Deus.
Elias sentia terrivelmente a falta de sua esposa. Esperava havia muito ter sua mulher de volta em casa, mas sabia que o SPLA não a deixaria sair facilmente - ela sabia demais e era uma força importante para a causa deles. Então, teve uma idéia. Todos sabiam que os soldados tinham escassez de óleo diesel para seus caminhões. Assim, com a ajuda do irmão de Ana Graça e de seu tio, fizeram uma negociação. O tio contatou um dos líderes da SPLA e fez uma oferta. Caso eles libertassem Ana Graça, ele lhes daria 20 barris de óleo diesel para seus caminhões. E deu certo. Os líderes do exército aceitaram a oferta.
O início de um grande ministério
Após anos de espera, Elias e Ana Graça finalmente puderam voltar para casa. Em pouco tempo, Elias foi designado bispo para sua região. Enquanto ele ficava fora, dando aulas ou distribuindo Bíblias para congregações necessitadas, Ana Graça utilizava sua experiência para organizar o ministério com as mulheres de sua igreja, e, com alegria, recebia as mulheres e crianças que vinham a sua casa em busca de ajuda.
Enquanto esteve na mata, ela ouvira histórias de famílias que foram expulsas de suas terras e casas. Ela encontrara mulheres que foram raptadas e estupradas. Esses trágicos depoimentos se repetiam agora, quase que diariamente em sua casa. Um sem-número de mulheres eram presas desse ciclo de desespero. Em seu desejo de ajudar, Ana Graça convidou-as para momentos de oração e jejum.
Mais tarde, enquanto um grupo de mulheres orava, uma delas teve uma idéia. A igreja possuía uma propriedade próxima do rio Yei, e o rio continha muita areia, um produto muito necessário no Sudão. Ana Graça, desse modo, organizou um grupo de trabalho - ela denominou-o Projeto das Mulheres. As participantes não contavam com carrinhos de mão nem qualquer outro equipamento, mas elas, com ajuda de latas, pequenas caixas ou qualquer outra coisa que pudessem encontrar, começaram a coletar areia às margens do rio.
Aos poucos, o monte de areia crescia cada vez mais. Um homem que trabalhava para uma organização não-governamental (ONG) ficou tão impressionado com o árduo trabalho das mulheres que se tornou seu primeiro cliente. Após sua primeira compra de areia, Ana Graça pôde pagar as pessoas que trabalhavam para ela.
Uma vez que muitas pessoas de fora começavam a visitar a área, surgiu uma outra idéia para um negócio rentável para as mulheres. Elas começaram a construir uma hospedaria. Quanto mais hóspedes vinham, mais chalés puderam ser construídos. O Projeto das Mulheres estava prosperando.
Ana Graça, nessa época, soube que amigos de seu marido haviam presenteado alguns pastores mais pobres com um saco de sementes. O cultivo de hortas com vegetais ajudara os pastores a alimentar as famílias de suas igrejas. Ana Graça pediu: "Por favor, será que eu também poderia receber um saco de sementes? O cultivo de vegetais poderia gerar mais recursos para o Projeto das Mulheres".
Aquele saco de sementes resultou em uma colheita maravilhosa de cebola, tomate, alho e repolho - e mais sementes. No momento, as mulheres estão verdadeiramente entusiasmadas. Mulheres de outras igrejas juntaram-se à força de trabalho. Informações a respeito de outras possibilidades surgiram, e o Projeto de Fortalecimento das Mulheres Cristãs (CWEP) tornou-se uma forma de compartilhamento do amor de Jesus junto àqueles que não conhecem ao Senhor.
A glória pertence a Deus
Até o momento, o islamismo falhou em vencer a guerra com armas, mas todos sabiam que os muçulmanos jamais desistiriam. O dinheiro, de todo o mundo islâmico, já estava sendo disponibilizado para escolas e serviços de saúde. Ana Graça e Elias precisavam alcançar as comunidades com o evangelho cristão antes que os muçulmanos as alcançassem com o Alcorão.
Não obstante, ela sorria ao observar as expressões radiantes que a cercavam. Ana Graça sabia que, sem sombra de dúvidas, a igreja em seu país estava maior e mais forte do que há vinte anos, quando ela se casou com Elias. A batalha não estava terminada, porém suas mãos "haviam sido treinadas para a guerra", graças às dificuldades que enfrentara. As dificuldades que teve de encarar a tornaram uma pessoa criativa. O sofrimento que enfrentou a ensinou a dar conforto aos outros. Ana Graça não desperdiçou seus muitos sofrimentos, pois, por intermédio de suas angústias, ela aprendera a confiar em Jesus.
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