COLÔMBIA – Uma série de ameaças de morte contra o pastor Wilmer Ribón Ríos, de 31 anos, em um bairro de trabalhadores em Medellin o levou a abandonar a casa dele e o ministério no mês de maio e correr com a família para a capital da Colômbia, Bogotá.
Durante três anos, Wilmer foi o pastor da Igreja Rios de Água Viva, em Belén Rincón, localizada num bairro violento, controlado por paramilitares e formado por muitas pessoas que abandonaram suas casas em outras localidades por causa das ações de guerrilhas.
Durante a posse dele como pastor, Wilmer havia iniciado vários programas sociais, incluindo um clube de esporte e um projeto que oferecia comida, ajuda médica e econômica para os mais necessitados.
Evangelismo incomoda
Em 2006 ele começou a realizar atos evangelísticos semanais de meia-hora, em que tocava música cristã ao ar livre, nas calçadas, e fazia um pequeno sermão, enaltecendo as mensagens do amor de Deus. O último evento evangelístico aconteceu durante Semana Santa, quando teve início uma série de dois meses de ameaças consecutivas.
Por volta das 20h30 do último dia 19 de março, a esposa de Wilmer, Beatríz Bermúdez, atendeu o telefone da casa da família. Uma voz masculina lhe perguntou se aquela era a casa do “pastor gordo de Belén Rincón.”
Quando ela respondeu que era, o homem disse: “Fale para o pastor deixar de fazer lavagem cerebral nas pessoas do bairro, deixar de orar pelas pessoas e assim ele manterá sua saúde como está.”
Cinco minutos depois o telefone tocou de novo. Beatríz atendeu. A mesma voz repetiu a ameaça, dizendo que Wilmer estava “livre para fazer tudo o que ele quisesse na igreja dele, mas que do lado de fora ele deveria ficar quieto, caso contrário algo ruim aconteceria a ele”.
Quando Wilmer chegou em casa, contou à esposa que o vigia da igreja também havia recebido uma ligação ameaçadora exigindo que ele deixasse de orar e pregar no bairro.
Informante?
Wilmer Ribón levou sua preocupação e pediu oração para a liderança da igreja dele, que decidiu interromper com as atividades evangelísticas nas ruas até que as tensões no bairro esfriassem. Mas as notícias sobre as ameaças a ele se espalharam e o pastor começou a achar que havia algum informante entre a própria liderança da igreja.
No dia 29 de maio, paramilitares que controlam o bairro lhe perguntaram se ele havia recebido chamadas ameaçadoras. Wilmer confirmou.
Os paramilitares lhe disseram para que não se preocupasse, porque não estavam por trás das ameaças, e se ofereceram para descobrir os autores. “Eu lhes disse imediatamente que não fizessem isso”, disse o pastor.
Outro telefonema
Os paramilitares lhe falaram que precisavam descobrir quem era responsável pelas ameaças, porque eles achavam que algo no bairro estava saindo do controle. Alguns dias depois, alguém o telefonou novamente:
“Senhor, lembre que eu só queria que você deixasse de pregar a Bíblia nas ruas e parasse de fazer lavagem cerebral nas pessoas”, disse o desconhecido. “Mas você ignorou e agora eles estão atrás de mim e eu o advirto que se algo acontecer comigo, algo também acontecerá como você.”
Wilmer ficou com tanto medo que foi parar no pronto-socorro após fortes dores no peito. Ele tentou registrar uma ocorrência policial, mas os oficiais exigiram que ele revelasse quem estava por trás das ameaças. O pastor não tinha idéia. “Espero no Senhor e tento ser prudente em minhas ações”, disse ele.
No dia 3 de maio, o mesmo homem telefonou exigindo encontrá-lo no Parque Santo Antonio, no centro de Medellin, mas o advertiu a não levar a polícia, paramilitares “ou “qualquer outra pessoa, porque ele só falaria a sós com ele”.
O pastor, entretanto, achou melhor comentar com um policial sobre a reunião planejada no parque. Como o homem não voltou a estabelecer contato, Wilmer pediu ao policial para que o escoltasse até a sua casa, mas o oficial disse que não podia e que nenhum outro estava disponível.
No dia seguinte, o homem ligou para o pastor e descreveu o contato que ele havia feito com o policial, repetindo as ameaças. “Isso preocupou minha família, até mesmo meus pais, e nós começamos a pensar em deixar a cidade”, disse o pastor.
Ameaça frente a frente
Na noite de 8 de maio, ele estava saindo de uma clínica de saúde no centro de Medellin quando dois homens armados em uma motocicleta disseram ser primos do homem que o telefonava.
“Eles só quiseram me advertir que se alguma coisa acontecesse ao primo deles, algo também aconteceria a meus filhos, disseram que eu não deveria dizer nada aos paramilitares, caso contrário ele poderia ser expulso do bairro e perder a família”, disse o pastor.
Depois disso, Wilmer resolveu sair da cidade com sua família.
“Expulsão comum”
Um trabalhador cristão na Colômbia disse esse tipo de “expulsão” está acontecendo em outras partes do país devido aos esforços de novos paramilitares que tentam recuperar o controle das mãos de guerrilhas rebeldes em áreas que haviam sido abandonadas pelo próprio governo.
“Pastores sempre estão na mira desses grupos porque os pastores oram pedindo pela paz e não concordam com a ação desses grupos”, disse um trabalhador.
O pastor está aflito por ter de deixar para trás a vida dele e o ministério. Ele fugiu diante de ameaças perturbadoras. Na semana em que ele partiu, um residente famoso do bairro foi morto a tiros na esquina de um restaurante, perto da igreja. Tempos depois, dois juízes foram assassinados em plena luz do dia.
“Nós temos que confiar em Deus”, disse o pastor. Mesmo assim, ele lembrou: “A ameaça veio e eu parti. Mas Deus também nos chama a sermos prudentes e eu acredito que qualquer pessoa em minha situação teria feito a mesma coisa.”
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