Marcos* é um cristão chinês que foi preso por causa da sua fé. Ele conta suas experiências do tempo em que passou na prisão. Na China, quando você é preso por ser cristão, os guardas tentam te fazer desistir de sua fé. E quando você se rende, eles oferecem a você um cargo na posição de membro da comunidade ou na igreja oficial. Se você não nega a fé e não se rende, então eles o atacam. Primeiro eles o colocam num lugar pequeno, o isolam, e o deixam com fome para convencê-lo.
A primeira prisão na qual estive tinha 45 metros quadrados e havia quarenta prisioneiros, com um pequeno quadrado para cada um. Quando cruzávamos um pelo outro era muito apertado, e quando dormíamos, não podíamos esticar as nossas pernas. Quando se tinha sede, não havia água.
Por ser cristão, eles me indicaram para distribuir água a todos. Mas nós tínhamos somente um copo de água por dia, e era para escovar os dentes, lavar o rosto e beber. E até lavar roupa era com aquele copo d´água! Por isso, nós não lavávamos e tínhamos bichos em nossas roupas. Tínhamos somente duas pequenas tigelas de macarrão e um pequeno pedaço de pão por dia. Ele era muito pequeno. Se fosse um dia especial ou festa, eles davam uma tigela maior de macarrão.
Todos os dias tinha trabalho para fazer. O trabalho era montar luzes de natal. Tínhamos de instalar sete mil conexões de luzes todos os dias. Dentro da lâmpada existem dois fios pequenos. Liga-se os dois e é preciso usar os dentes para prende-los. Se a pessoa não consegue concluir sua meta, eles a espancam. Quando você acaba, tem de se curvar. Então eles usavam aquele grande bastão para bater no seu quadril. Não havia barbeiro, por isso o cabelo e a barba ficavam compridos.
Um dos prisioneiros era um Uighur, uma minoria do nordeste da China. Ele não conseguia atingir sua meta na maioria das vezes. Por isso eles lhe diziam: Por que você não pode terminar sua tarefa? Devido ao fato dele ter uma longa barba, eles apenas o puxavam pela barba. Da vez seguinte em que ele não pôde terminar sua tarefa eles o puxaram tanto, até que o seu rosto ficou ferido.
Eles interrogavam. Se a pessoa não respondia, ou se a resposta não estava de acordo com o que queriam, eles a puniam.
Crucificado como Cristo
Eu disse: Eu não tenho nada a dizer, porque o Espírito Santo não me deu uma palavra para compartilhar com vocês. Os guardas disseram: Como você pode dizer uma coisa dessas? Você está contra nós? Então eles me amarraram. Mas depois disseram: Não, não vamos amarrá-lo. Encontramos outra forma de punição. Eles tinham um portão. Amarraram minhas mãos às costas e depois ao portão. Quando eles abriam o portão, o meu corpo ficou pendurado no ar; meus pés não podiam tocar o chão por quase duas horas.
Durante aquelas duas horas, eu orei ao Senhor e Ele deu-me sentimentos. Senti o Senhor crucificar-se a si mesmo na cruz e levar os nossos pecados. Essa é uma realidade. Ele é o Filho de Deus. Ele pagou o preço por nós e me permitiu tomar parte em Seu sofrimento. Naquele momento, em minha consciência, eu disse a mim mesmo: Eu O amo, verdadeiramente, eu O amo, porque Ele permitiu que eu experimentasse o Seu sofrimento.
Outro oficial veio me ver. Minha mão estava inchada. Ele tocou minha mão e disse: Por que você não diz apenas algumas palavras que os faça felizes? Por que você tem de sofrer?
Eu não tinha força para falar e ouvi uma voz alta vinda de longe que disse: Bata nele! Então eu senti como se estivesse no momento em que Jesus estava na cruz. Ele disse: Perdoa-os porque eles não sabem o que fazem.
Eles não sabem o que fazem. Se eles conhecessem a fé que nós temos, o Senhor que nós temos, eles não fariam aquilo. Realmente, eu sinto que lhes devo o evangelho, porque eles não conhecem a Cristo. Estou em débito para com eles porque eles não conhecem o nosso Senhor.
Quando eu estava na barbearia da prisão, o sujeito que estava cortando o meu cabelo - um espião - disse: Já temos quatro pessoas sentenciadas à morte. Você é um deles e nós vamos executá-lo. Eles me colocaram num lugar, e fora do meu quarto havia água limpa para que todos os dias eu pudesse lavar minha roupa e tomar banho. Sempre que eu ouvia o barulho de motor, eu me vestia porque sabia que eles estavam vindo para me executar. Eu estava pronto. Eu fazia essa preparação todos os dias. Quando eles queriam executar alguém, mandavam um policial de uniforme, com luvas brancas e algemas. Eles levaram aqueles prisioneiros, que nunca mais voltaram.
Um dia o policial uniformizado chegou com suas luvas brancas, abriu o portão e entrou no nosso quarto. Chamaram o meu nome. Eu pensei: Esta é a hora do Senhor. Por isso eu me levantei e os segui para fora do portão. Existiam dois portões. Eu podia ver o portão exterior. Oito policiais estavam comigo. Caminhei com o policial até a sala do chefe da prisão.
Disseram-me para que eu me agachasse sobre uma pedra. Um soldado disse que aquela era a primeira vez que ele ia executar um prisioneiro. Do lado direito do local de execução havia uma sala de reuniões onde os oficiais estavam reunidos. Eu conversei com um prisioneiro e ele disse: Nenhuma arma pode me ferir. Eu tenho poderes sobrenaturais. Depois que ele disse isso, eles o executaram. Deram apenas um tiro em sua cabeça. Sangue por toda parte.
Um dos oficiais me disse: O que você quer dizer? No dia em que executavam prisioneiros, eles tinham um alto-falante. As pessoas vinham ver as execuções. Ele disse: Bem, este grupo está aguardando você. O que tiver de dizer, diga-o agora.
Eu não tenho nada a dizer
Senti muita pena dele. Senti que eu devia o evangelho a ele. Mas, porque eu não tinha o que dizer, ele saiu de sua cadeira e agarrou o meu pulso. Depois colocou a mão sobre o meu coração para verificar se ele ainda estava batendo. Ele estava muito zangado porque pensava que eu ia ficar muito assustado.
Eu tive a experiência da morte. Todos os dias nós passamos pela morte para permitir que a morte de Cristo viva em nossa vida.
Depois de alguns aprisionamentos e ameaças de morte, eles finalmente disseram: Este homem é de fato cristão. Hoje estou livre. Obrigado Senhor.
* Nome fictício por segurança.
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