Uma mulher supostamente possuída foi queimada viva por evangélicos, em um ritual que, segundo os líderes religiosos, teria sido ordenado por Deus como a única forma de expurgar os espíritos malignos.
O caso do assassinato de Vilma Trujilo, 25 anos, foi registrado na última terça-feira, 28 de fevereiro, após os fiéis de uma congregação da Assembleia de Deus acenderem uma fogueira e jogarem a mulher nela, sob a alegação de que ela seria “curada”.
As autoridades da Nicarágua investigam os detalhes do cime, já que Vilma foi levada à igreja evangélica Assembleia de DEus Visão Celestial, na cidade de El Cortezal, para receber uma “oração de cura”, no dia 15 de fevereiro.
Com os pés e mãos amarrados, Vilma ficou sob os cuidados do pastor Juan Gregorio Rocha, e seis dias depois, a diaconista Esneyda del Socorro Orozco, afirmou ter recebido uma “revelação divina” que ordenava “que deveria ser feita uma fogueira no pátio do templo para curar a vítima por meio do fogo”, informou a Polícia Nacional.
De acordo com informações do portal Terra, Vilma foi jogada na fogueira com os pés e mãos amarrados, e teve 80% do corpo queimado em primeiro e segundo graus. Depois do ritual bizarro, ela foi socorrida e levada ao hospital da cidade de Manágua, mas não resistiu e faleceu no dia 28.
Vilma era casada e tinha dois filhos. Seu marido, Reynaldo Peralta, afirmou que a esposa foi levada à força pelos fiéis, que a acusavam de tentar atacar pessoas com um facão. “Ela não estava possuída pelo demônio”, frisou Peralta.
“Ela tomava um remédio dado por um homem que, pelo que fiquei sabendo agora da família dela, a havia estuprado. Desde que começou a tomar o remédio, mudou um pouco comigo”, disse o marido ao jornal La Prensa, acrescentando que sua esposa foi vítima de “bruxaria”.
O pastor Rocha – que não foi reconhecido pela Assembleia de Deus do país como um sacerdote – alegou que Vilma caiu no fogo quando “o espírito do demônio saiu do corpo dela”, e negou que qualquer fiel tenha atirado a mulher na fogueira.
A Polícia Nacional já prendeu cinco pessoas por suspeita de assassinato, incluindo o pastor Rocha e a diaconisa Esneyda.
Pablo Cuevas, porta-voz da Comissão de Direitos Humanos da Nicarágua, pediu ao governo um controle mais firme dos grupos religiosos no país. “É impressionante que, neste momento, isso aconteça. As autoridades precisam avaliar diferentes denominações e religiões. Não podemos deixar acontecer coisas como essas”, frisou.
Atualmente, a Nicarágua vive um momento semelhante ao Brasil, com crescimento exponencial dos fiéis evangélicos. O país – que já foi predominantemente católico – agora tem um percentual equilibrado, com 50% da população fiel à igreja romana, e 40% ligada às denominações evangélicas.
A vice-presidente da Nicarágua, Rosario Murillo, lamentou a morte a morte da jovem e disse que o episódio é “condenável”: “Com certeza reflete uma situação de atraso. É realmente lamentável, uma irmã sendo martirizada pelos membros de sua comunidade. É algo que não pode, não deve se repetir”, afirmou.
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