A carioca Valéria Valenssa, de 35 anos, ficou famosa em todo o país por conta das vinhetas de Carnaval da Rede Globo no início da década de 90. Aliando efeitos especiais de última geração, música animada e contagiante performance de dança, as vinhetas, de pouco mais de 30 segundos, repetidas diversas vezes durante a programação, se tornaram a marca registrada da dançarina. A identificação foi tão grande que o apelido Globeleza pegou.
Embora a primeira vinheta só tenha sido produzida em 1990, o sonho de dançar na televisão vinha desde a infância. Quando era pequena e morava na Pavuna, subúrbio do Rio, Valéria era fascinada pelo programa do Chacrinha e cultivava o desejo de ser chacrete. Aos 12 anos entrou para um curso de modelo e em 1989 participou do concurso Garota de Ipanema. Valéria era a única negra entre as candidatas e encantou o público e os jurados com a sua simpatia e alegria no samba.
O prêmio não veio, mas um dos jurados do concurso era o designer gráfico da Rede Globo, Hans Donner, responsável pelo projeto de criação da vinheta de Carnaval da emissora. Nascia ali um dos maiores símbolos da televisão brasileira.
A ligação com o Carnaval vem da infância. A pequena Valéria adorava vestir fantasias e sair sambando. Nos tempos de Globeleza, ela teve que exercitar muito a paciência. Para algumas das vinhetas, a maquiagem e produção do figurino demoravam até 48 horas. Era uma prova de resistência, pois a modelo permanecia de pé sem poder comer ou dormir.
O sucesso foi tão grande que a dançarina conquistou fãs em todos os cantos do país e recebeu convites para participar, no exterior, de vários eventos sobre o Carnaval brasileiro. Valéria também participou do musical “Ela Brasil” ao lado do dançarino Carlinhos de Jesus. No espetáculo, por meio da dança, eles falavam sobre a cultura de vários lugares do país, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul e Parintins, num total de 35 momentos musicais diferentes, com ritmos representativos brasileiros, como o samba, o xote, o xaxado, a gafieira, a chula, o maculelê e o frevo.
Em 2004, após 14 participações como a garota da vinheta carnavalesca, Valéria saiu da emissora e reformulou sua vida. Mãe de dois filhos, ela se tornou evangélica e se declara feliz. Freqüenta uma igreja no Jardim Botânico e tem ajudado diversas instituições sociais. A conversão, como ela mesma define, foi um momento de emoção e que trouxe respostas para tudo o que ela queria entender.
Valéria Valenssa lembra com carinho dos tempos em que foi musa da emissora, mas garante que ser símbolo sexual não deve ser o ponto mais importante da carreira de uma artista. Para crescer, é preciso buscar sempre a evolução e o aprimoramento dos talentos.
Atualmente, ela participa do programa Bailando por um Sonho, do SBT, que mistura espetáculo com competição de dança e onde os participantes resgatam a beleza da dança de salão.
Valéria também arranja tempo para cuidar da produção de um musical infantil que deve estrear ainda este ano. O próximo trabalho voltado para crianças é um exemplo de sua vocação de mãe, já que encontra todo o tempo necessário no seu dia-a-dia para se dedicar aos filhos.
Nesta entrevista exclusiva à Enfoque, ela dá declarações que podem até ser consideradas polêmicas e conta um pouco da sua história, casamento, família, sua conversão e seus planos para o futuro. Confira.
ENFOQUE – Em que época você entrou na Rede Globo?
VALÉRIA – Foi em 1990, com a primeira vinheta para o Carnaval. Ainda não existia o nome Globeleza, mas o conceito de misturar dança com o padrão gráfico da emissora e o logotipo já existia. Foi uma produção bastante inovadora para a época.
ENFOQUE – Como isso aconteceu?
VALÉRIA – No ano anterior, em 1989, participei do concurso Garota de Ipanema, no Rio. Eu já era modelo há alguns anos, porém tinha o sonho de trabalhar na televisão, de preferência como dançarina.
ENFOQUE – Como se deu a evolução de sua carreira? Imaginava que faria tanto sucesso?
VALÉRIA – A princípio, só seria feita a vinheta em 1990. No entanto, fui convidada novamente no ano seguinte e depois voltei em 93. Nesse ano, a vinheta ficou dois meses no ar, já com o nome de Globeleza. A partir daí, as pessoas passaram a me identificar com as vinhetas e as coisas foram evoluindo naturalmente. Eu sonhava desde os 12 anos de idade em fazer sucesso, mas nunca achei que faria tanto.
ENFOQUE – Quem criou a Globeleza?
VALÉRIA – Foi o Hans Donner, juntamente com o Boni [diretor de programação da emissora na época]. Mas na primeira vez que fiz a vinheta de Carnaval da Globo ainda não existia o nome Globeleza. Havia somente o conceito da vinheta.
ENFOQUE – Você teve que enfrentar ou se submeter a situações difíceis no período em que foi Globeleza?
VALÉRIA – Não. A equipe foi sempre muito profissional, e nunca tive problemas com ninguém. O maior desafio era ficar 24 horas ou até mesmo 48 horas de pé, sem dormir, sendo maquiada.
ENFOQUE – Você sempre gostou do Carnaval?
VALÉRIA – Amo o Carnaval até hoje. Para mim, é a festa mais importante do país.
ENFOQUE – Qual a importância da fase Globeleza em sua vida?
VALÉRIA – Devo tudo o que tenho a essa fase, tanto na vida profissional quanto familiar. Foi graças à vinheta que conheci o Hans, meu marido, que tive meus filhos, constituí a minha família e pude chegar em milhares de casas de todo o Brasil todos os anos.
ENFOQUE – Como foi o início do relacionamento com o Hans? Vocês se conheceram na Rede Globo?
VALÉRIA – Foi no concurso Garota de Ipanema, mas só depois que virei Globeleza é que passei a conviver mais com ele. Na época, ele era casado com a modelo Isadora Ribeiro. Depois que ele se separou, passamos a nos encontrar mais vezes e, quando percebi, já estávamos morando juntos. Morei com ele durante 10 anos e depois nos casamos, quando eu estava grávida de 7 meses do meu primeiro filho, o João Henrique (com 3 anos e meio). Além dele, também tenho o João Gabriel, com 2 anos e meio.
ENFOQUE – Como é ser casada com um profissional considerado um ícone nacional em produção de imagens?
VALÉRIA – Apesar de ser um gênio em seu trabalho, como marido Hans é igual a todos os outros homens, só que mais criativo (risos). Além de me ajudar a cuidar e educar nossos filhos, ele ainda arruma tempo para desenvolver um novo design de cama para os nossos filhos. Ele é tudo o que eu sempre sonhei.
ENFOQUE – Em algum momento você foi julgada pelo relacionamento que tinha com ele? Sofreu algum tipo de preconceito?
VALÉRIA – Acho que tudo depende da nossa própria postura. Nunca dei motivos para duvidarem do meu amor por ele e, por isso, nunca sofri nenhum preconceito por causa do nosso relacionamento.
ENFOQUE – Como exerce seu papel de mãe?
VALÉRIA – É corrido, mas acho que nasci para ser mãe. Gosto de dar banho, buscá-los na escola, colocá-los para dormir… Para isso, preciso organizar bem o meu tempo. Mas, com jeitinho, dá para fazer tudo numa boa. Às vezes, acabo me atrasando um pouco em alguns compromissos, mas todo o mundo entende.
ENFOQUE – Há quanto tempo vem freqüen
tando igrejas evangélicas?
VALÉRIA – Já havia assistido a alguns cultos quando era jovem. Mas somente há um ano e meio é que venho freqüentando realmente a igreja, participando e aprendendo mais.
ENFOQUE – Você se declara evangélica?
VALÉRIA – Sim. Eu participo dos cultos e pratico o Evangelho no meu dia-a-dia.
ENFOQUE – Mas como o Evangelho entrou em sua vida? Como foi a conversão?
VALÉRIA – Quando fui demitida da Rede Globo, não estava preparada para isso. Foi uma surpresa. Foram 14 anos trabalhando e levei um choque. Não cheguei a entrar em depressão, mas fiquei assustada, sim. Acho que qualquer pessoa também ficaria na minha situação. É lógico que já estava me preparando para deixar de ser a Globeleza, mas queria fazer isso só no ano seguinte. Queria ter um tempo para ir me acostumando com a idéia e ir me preparando para novos desafios.
Um dia, estava passando por uma rua no Jardim Botânico, saindo do escritório do Hans Donner, ao lado da Rede Globo, e lembrei que já havia ido a um culto ali perto. Procurei pela igreja e a encontrei. Entrei e participei de uma reunião. Fiquei emocionada por ter achado respostas para tudo o que estava tentando entender naquele momento. Desde então, freqüento essa mesma igreja.
ENFOQUE – Sua conversão tem alguma coisa a ver com o fato de ter deixado de ser Globeleza?
VALÉRIA – Em parte, sim, mas acho que mais cedo ou mais tarde isso teria acontecido. Deus sempre arruma um jeito de nos fazer um chamado. As coisas de Deus sempre acontecem na hora certa e da maneira planejada para nós.
ENFOQUE – Sua vida sofreu muitas mudanças desde que você se converteu? Poderia citar as principais?
VALÉRIA – Sinto que hoje estou mais calma, mais tolerante e mais atenta para viver de acordo com a Palavra de Deus. Sempre gostei de participar de eventos sociais, mas hoje sinto que estou mais engajada. A minha vida melhorou muito. Estou mais feliz.
Tenho ajudado diversas instituições e tento levar um pouco de paz às pessoas que estão passando por alguma dificuldade.
ENFOQUE – Como seu marido viu essas mudanças?
VALÉRIA – Acho que toda pessoa que ama gosta de ver o seu amado bem, gosta de ver o outro em paz. E com ele não é diferente. Ele está feliz por eu estar feliz.
ENFOQUE – Hoje, como você vê o Carnaval?
VALÉRIA – Vejo como a maior festa popular do mundo. É um evento muito importante para a cultura brasileira.
ENFOQUE – Você acha que deixou de ser um símbolo sexual?
VALÉRIA – Ser símbolo sexual é um título passageiro. Já tivemos grandes símbolos sexuais que hoje são empresárias, apresentadoras ou atrizes. O importante é buscar sempre uma evolução. E é por isso que eu estudo, faço aulas de canto e busco novos horizontes.
ENFOQUE – Como lida e vê a igreja evangélica?
VALÉRIA – Como todo o mundo. Estamos ali em busca de um único objetivo, que é encontrar Deus.
ENFOQUE – O que mais a perturba ou a incomoda em termos de igreja?
VALÉRIA – Nada me incomoda. Eu vou ali para me encontrar com Deus.
ENFOQUE – O que mais a desafia na sua fé?
VALÉRIA – Eu nunca ponho à prova a minha fé. Acredito nela e em tudo o que Deus me diz.
ENFOQUE – Hoje em dia, o que você faz profissionalmente?
VALÉRIA – Estou participando do programa Bailando por um Sonho, no SBT, apresentado por Sílvio Santos, e estou produzindo um musical infantil para estrear este ano. Mas não posso falar dos detalhes, pois ainda estou comprando os direitos.
ENFOQUE – Você tem algum projeto ligado às questões evangélicas?
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