R$ 45,81
Peso: 0.966
Tamanho: 16 x 23
Edição: 2011
Volume: 1
isbn: 978-85-80380-05-7
Ano Lançamento: 2011
Qualquer pessoa que se lança no desafio de escrever mais um comentário sobre o evangelho de Mateus precisa apresentar boas razões para isso.Esse comentário, acima de tudo, busca explicar o texto do evangelho de Mateus para aqueles que têm como privilégio e responsabilidade ministrar e pregar a Palavra de Deus, bem como liderar estudos bíblicos.Por essa razão, o comentário apresenta o tipo de informação que esses grupos precisam ter, mas de tal forma que o leigo instruído também possa fazer uso da obra em estudos pessoais da Bíblia, exclusivamente para propósitos de crescimento pessoal na edificação e no entendimento.
Em cada evangelho, o ministério terreno de Jesus é precedido por um relato do ministério de João Batista. Essa similaridade formal não se estende às introduções dos evangelhos. Marcos (1.1) inicia com uma simples declaração. Lucas começa com um prefácio na primeira pessoa em que explica seu propósito e seu método, seguido de um relato detalhado e, com frequência, poético do nascimento milagroso de João e de Jesus (1.5—2.20) e uma breve menção à viagem de Jesus,ainda menino, ao templo (2.21-52). Lucas reserva a genealogia de Jesus para o capítulo 3. O prólogo de João (1.1-18) traça o princípio de Jesus à eternidade e apresenta a encarnação sem se referir à concepção nem ao nascimento dele. Em cada evangelho, a introdução antecipa os temas e as ênfases principais. Em Mateus, o prólogo (1.1—2.23) apresenta temas como o Filho de Davi, o cumprimento de profecia, a origem sobrenatural de Jesus, o Messias, e a proteção soberana do Filho pelo Pai a fim de o levar a Nazaré e realizar o plano divino de salvação do pecado (cf. esp. Stonehouse, Witness of Matthew [Testemunho de Mateus], p. 123-28).1 As duas primeiras palavras de Mateus, biblos geneseôs, podem ser traduzidas por “registro da genealogia” (NVI), “livro da origem” (BJ) ou “livro da genealogia”(ARA). A NVI limita o título à genealogia (1.1-17), a segunda pode servir como título do prólogo (1.1—2.23) e a terceira como título de todo o evangelho. Há apenas duas ocorrências da expressão na LXX: em Gênesis 2.4, com referência ao relato da criação (Gn 2.4-25), e em Gênesis 5.1, para introduzir a genealogia. Do último, parece possível seguir a NVI (como também Hendriksen; Logmeyer,Matthäus [Mateus]; McNeile), contudo, como a palavra Genesis (NVI, “nascimento”)reaparece em 1.18 (uma das únicas quatro ocorrências no Novo Testamento), parece provável que o título em 1.1 se estenda além da genealogia. Não veio à luz nenhuma ocorrência da expressão como título para um documento da extensão de um livro.Portanto, devemos dar um desconto para a percepção cada vez mais popular (Davies,Setting [Cenário]; Gaechter, Matthäus [Mateus]; Hill, Matthew [Mateus]; Maier; Zahn) de que Mateus pretende se referir a todo seu evangelho com o título “Registro da genealogia de Jesus Cristo”. Antes, Mateus pretende que seus dois primeiros capítulos sejam um registro coerente e unificado “da origem de Jesus Cristo” (BJ).A designação “Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” transmite nuanças bíblicas. (Para comentários em relação a “Jesus”, veja 1.21.) “Cristo” é, aproximadamente, o equivalente grego de “Messias” ou o “Ungido”. No Antigo Testamento, o termo poderia se referir a várias pessoas “ungidas” para alguma função especial: sacerdotes (Lv 4.3; 6.22), reis (1Sm 16.13; 24.10; 2Sm 19.21; Lm 4.20) e,metaforicamente, os patriarcas (Sl 105.15), além do rei pagão Ciro (Is 45.1). Já na oração de Ana, “Messias” faz paralelo com “rei”: “Ele dará poder a seu rei e exaltará a força do seu ungido” (1Sm 2.10). Com o aumento de profecias do Antigo Testamento referentes à linhagem do rei Davi (e.g., 2Sm 7.12-16; cf. Sl 2.2; 105.15),“Messias” ou “Cristo” tornou-se a designação de uma figura representando o povo de Deus e trazendo o prometido reino escatológico.Na Palestina da época de Jesus, abundavam as expectativas messiânicas. Nem todas elas eram coerentes, e muitos judeus esperavam por dois “Messias” distintos.Mateus 1.1-1785.Mas a ligação que Mateus faz de “filho de Davi” com “Cristo” não deixa dúvida em relação ao que está afirmando sobre Jesus.Nos evangelhos, a ocorrência do título “Cristo” é relativamente rara (quando comparados com as epístolas de Paulo). Mais importante, o nome aparece quase sempre como título, equivalente estritamente a “o Messias” (veja esp. 16.16). Mas era natural, depois da ressurreição, os cristãos usarem “Cristo” como nome não menos que como título; eles falavam cada vez mais de “Jesus Cristo”, ou “Cristo Jesus”, ou apenas “Cristo”. Paulo normalmente trata “Cristo”, pelo menos em parte,como nome; mas é duvidoso que a força de título tenha desaparecido totalmente(cf. N. T. Wright, “The Messiah and the People of God: A Study in Pauline Theology with Particular Reference to the Argument of the Epistle to the Romanos” [“OMessias e o povo de Deus: um estudo da teologia paulina com especial referência ao argumento da epístola aos Romanos”] [dissert. Ph.D., Oxford University, 1980] p.19). Das aproximadamente dezoito ocorrências do termo em Mateus, todas são exclusivamente titulares, exceto essa (1.1), é provável em 1.16, com certeza em 1.18 e possivelmente na variante de 16.21. Os três usos de “Cristo” no prólogo refletem a posição confessional da qual Mateus escreve; ele é um cristão comprometido acostumado desde sempre com a forma comum de usar a palavra como título e como nome. Ao mesmo tempo, isso é um sinal da preocupação de Mateus, por exatidão histórica, de que Jesus não é designado assim por seus contemporâneos.“Filho de Davi” é uma designação importante no evangelho de Mateus. Não só Davi representa uma virada na genealogia (1.6,17), mas o título ocorre em todo o evangelho (9.27; 12.23; 15.22; 20.30,31; 21.9,15; 22.42,45). Deus firmara aliança de amor com Davi (Sl 89.29) e prometera que um descendente imediato dele estabeleceria o reino — e mais, que o reino e o trono de Davi durariam para sempre (2Sm 7.12-16). Isaías previu que seria concedido um “filho”, um filho com os títulos mais extravagantes: Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz: “Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão,desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso” (Is 9.6,7;grifo do autor).Na época de Jesus, pelo menos, alguns ramos do judaísmo popular entendiam que “filho de Davi” era messiânico (cf. Sl Sal 17.21; para um resumo da complexa evidência interbíblica, cf. Berger, “Die königlichen Messiastraditionen” [“Da realeza das tradições messiânicas”], esp. p. 3-9). O tema era importante no cristianismo primitivo (cf. Lc 1.32,69; Jo 7.42; At 13.23; Rm 1.3; Ap 22.16). As promessas de Deus, embora longamente adiadas, não foram esquecidas; Jesus e seu ministério eram percebidos como cumprimento de Deus das promessas da aliança, agora,com séculos de idade. Da árvore de Davi, arrancada até que restasse apenas parte do tronco, brotava um ramo, um renovo (Is 11.1).