Lutero falou e escreveu nas mais diferentes formas, nas mais difrentes oportunidades, a pessoas bem distintas umas das outras, tanto a indivíduos como a grupos, geralmente reagindo a questionamentos bem concretos. Não é possível reunir todos os discursos e escritos ocasionais num só compêndio sistemático. Ainda assim, todos eles estão relacionados com um determinado contexto de vida, que se anuncia de modo paradigmático no título do primeiro texto reformador de Lutero: a série de teses Pro veritate inquirenda et timoratis conscientiis consolandis (Pela investigação da verdade e para consolo das consciências atemorizadas), da primavera de 1518. 

A teologia de Lutero é demasiadamente ágil e complexa para ser reduzida a um único conceito. Ela não é concebida aprioristicamente como um sistema, mas obtém a sua coesão interna unicamente a partir da relação com a dinâmica do evangelho diferenciado da lei: a promissão divina (promissio). Essa relação constitui, por assim dizer, o conjunto de cromossomos presente em cada célula da teologia de Lutero.

Este livro é marcado pela intenção de comprovar a verdade encontrada no trabalho com Lutero por meio de comparações contrastantes. Leva-se Lutero ao diálogo - e, quando necessário, à polêmica - com grandes investigadores da verdade, tais como Kant, Hegel, Schleiermacher e outros.