São poucas as profissões em que o marido ou pai volta para casa depois do trabalho e não coloca os chinelos nos pés. Aqueles que, como eu, tem um pai professor sabem disso. O trabalho continua em casa, num dos dormitórios transformados em escritório. Foi assim que nós, as filhas, a nossa mãe, os genros e até os netos, acompanhamos de perto a dedicação apaixonada do pai pelo seu ministério. Seu impulso e - por que não? - quase compulsão pelo seu trabalho era como os de um artista que corre para dar umas pinceladas na sua tela quando sobrevém uma inspiração e é capaz de ficarem horas a fio, madrugadas adentro completamente imerso em sua obra.
Porém, esta obra que hoje o leitor tem nas mãos não tinha o objetivo de ser uma expressão pessoal com um fim em si mesma ou ser contemplada por admiradores de arte. A motivação do pai para dedicar-se de forma incansável à elaboração deste dicionário foi o seu desejo de deixar aos seus alunos um legado, um instrumento de grande utilidade para o estudo da teologia. Essa motivação é coerente com a percepção da sua vida de serviço à igreja e a deus. Sua maior preocupação era saber se estava deixando, para os que viriam depois, tudo o que pudesse em uma atitude de humildade e de gratidão a Deus pelos dons que dele recebeu e que, em benefício de todos, deveria reverter.