Pessoas que acreditam em Deus têm mais chance de cometer falhas lógicas levadas pela intuição; os não religiosos são mais analíticos quando lidam com pegadinhas matemáticas, afirma estudo.
Muita gente rejeita o estereótipo que descreve ateus como pessoas racionais e analíticas e religiosos como intuitivos e espontâneos. Um experimento feito na Universidade Harvard, porém, sugere que esse clichê pode ter um fundo de verdade.
No trabalho, cientistas avaliaram o estilo de raciocínio preferido por mais de 800 voluntários e viram que aqueles com tendência maior a usar a intuição eram mais propensos a crer em Deus e entidades sobrenaturais.
Para chegar à conclusão, os pesquisadores submeteram os voluntários a um questionário sobre crença religiosa e a problemas de raciocínio que avaliavam o estilo de pensamento de cada pessoa.
As perguntas eram, na verdade, "pegadinhas" que enganam especialmente as pessoas que contam com a intuição para lidar com números.
O resultado do experimento saiu em um estudo publicado na revista científica "Journal of Experimental Psychology". O trabalho, coordenado pelo psicólogo Amitai Shenhav, indica que pessoas mais racionais tendem a crer menos em Deus.
ÓBVIO?
Pode parecer uma conclusão óbvia, mas psicólogos ainda não tinham encontrado um jeito de testá-la.
Os cientistas de Harvard afirmam ter conseguido comprová-la agora porque usaram uma metodologia que avalia o estilo de raciocínio das pessoas sem levar em conta a magnitude da inteligência de cada um.
Em outras palavras, conseguiram evitar a armadilha que associa reflexão a pessoas mais inteligentes e intuição a pessoas mais burras.
"Uma das coisas que eu aprecio sobre a discussão entre uso de raciocínio reflexivo ou intuitivo é que não existe uma resposta certa sobre qual dos dois deve ser usado em cada ocasião", disse Shenhav à Folha. "Ambos são importantes para todo mundo, mas nós somos diferentes uns dos outros."
Segundo ele, muitos voluntários classificados como pessoas intuitivas tinham ido bem em dois testes de QI que haviam sido aplicados antes do experimento.
"Em testes de inteligência padrão, existem poucas questões com respostas intuitivas que vêm à mente imediatamente", explica o psicólogo.
"É preciso trabalhar uma longa cadeia de raciocínio em cada um deles até que surja a resposta. O teste que usamos tem perguntas projetadas especialmente para oferecer uma resposta errada tentadora logo de cara."
O mais inesperado, porém, talvez seja que é possível moldar o tipo de crença religiosa que os voluntários têm.
Em outro teste, voluntários tinham de escrever uma redação sobre a importância da intuição. Logo após a tarefa, algumas pessoas titubeavam em perguntas sobre suas crenças religiosas, com tendência maior a relatar crença em entidades sobrenaturais.
"Talvez a maneira como somos educados a pensar de maneira reflexiva ou intuitiva ao longo da vida tenha alguma influência sobre nossas crenças", afirma o psicólogo. "Não sei dizer se isso é uma coisa boa ou ruim."
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