Empresas ligadas à igreja seriam usadas para lavar no exterior dinheiro arrecadado com o dízimo dos fiéis
A Justiça de São Paulo decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de empresas e de pessoas acusadas de montar um esquema para lavar dinheiro da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). A medida atinge sete integrantes da Iurd e duas empresas que manteriam relações com offshores em paraísos fiscais no Caribe. A investigação conduzida pelo Ministério Público Estadual (MPE) envolve remessas de divisas para o exterior que seriam recambiadas ao País e aplicadas em empresas controladas pela igreja. O mecanismo serviria para burlar a Receita Federal, escondendo a suposta origem dos recursos: o dízimo dos fiéis.
Os alvos do MPE são praticamente os mesmos que figuraram no inquérito instaurado em 1999 pela Procuradoria-Geral da República para apurar a compra da Record Rio e de outras emissoras. Entre eles estão o segundo vice-presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, Claudemir Mendonça de Andrade (PSDB), e outros dois ex-vereadores cariocas – Waldir Abrão e João Monteiro de Castro dos Santos.
Também tiveram seus sigilos quebrados o pastor Márcio de Lima Araújo, ex-secretário de Esportes na gestão de Paulo Maluf na Prefeitura de São Paulo (1993-1997), e Álvaro Stievano Júnior. Eles são suspeitos de manter ligações com os offshores Cableinvest Limited e a Investholding Limited, nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal no Caribe.
Os promotores paulistas também tentaram quebrar o sigilo do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), um dos principais expoentes da igreja ao lado de seu tio, o bispo Edir Macedo, líder e fundador da Universal. Como parlamentares têm direito a foro privilegiado, em junho o inquérito seguiu para análise do Supremo Tribunal Federal (STF), que negou o pedido.
A quebra de sigilo foi autorizada pelo Departamento de Inquéritos Policiais da Capital (Dipo) com base em relatórios de movimentações financeiras do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Justiça.
Um relatório da Procuradoria-Geral da República de 2003 apontava Crivella como um dos acionistas da Cableinvest. Stievano Júnior também aparece na sociedade, enquanto Araújo foi investigado como o destinatário de empréstimos para financiar a compra da Record Rio, em 1992 – caso arquivado pelo STF em 2006.
Naquela investigação, o comerciante José Antônio Xavier teria admitido em depoimento à Polícia Federal (PF) ter sido usado como “laranja” para a aquisição da rede de TV. Xavier está sendo investigado de novo, desta vez, pelos promotores paulistas. Os nomes da Alba Maria Costa, ex-diretora do grupo Universal, e de David Noguchi Quinderé completam a lista elaborada pelo MPE.
As empresas que tiveram seus sigilos quebrados são a Unimetro Empreendimento S/A e a Cremo Empreendimentos S/A. A primeira está registrada na Junta Comercial de São Paulo como uma empresa de loteamento e incorporação de imóveis, enquanto a segunda prestaria serviços de locação, arrendamento e administração de condomínios, centros comerciais, teatros e até cemitérios. Desde fevereiro, Veríssimo de Jesus exerce as funções de sócio e diretor das empresas.
A Cremo foi aberta em 1991 e tem capital de R$ 28 milhões. A empresa era a proprietária do Cessna Citation-10 usado pelo então deputado João Batista Ramos da Silva para transportar R$ 10,2 milhões em sete malas apreendidas pela PF em julho de 2005, quando a aeronave se preparava para decolar. A Unimetro foi aberta em 1994 e tem capital declarado de R$ 45 milhões. Há indícios de que ambas seriam usadas para encobrir operações da Iurd para utilizar o dízimo de seus fiéis em operações com fins lucrativos.
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