Perguntado se era favor da união civil entre homossexuais, sua resposta foi contundente: “Sou a favor. O Brasil é um país laico. Minhas convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por relacionamentos juridicamente estáveis.
A nação tem de considerar essa demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações homossexuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade”.
Além de muitas críticas de outros pastores por conta desta posição, isso fez com que o pastor Gondim deixasse, após muitos anos, de ser colunista da revista Ultimato.
Dizendo-se o “herege da vez”, na mesma reportagem, Gondim explicou seu desgaste com os demais pastores por conta de suas posições teológicas a respeito de outras declarações suas a respeito da natureza de Deus e a interpretação da Bíblia.
O Brasil vive um clima de “guerra” declarada na luta pelos direitos da comunidade gay e a postura ferrenha dos pastores que veem nisso uma tentativa de destruir a família tradicional. Se por um lado a violência contra os homossexuais tem sido constantemente denunciada de forma acertada e o discurso religioso apontado [para alguns, de maneira equivocada] como um dos causadores, por outro, a tentativa de proibir qualquer expressão de pensamento contrário à prática homossexual é visto como censura.
Há, de fato, um elemento complicador nesse debate. Por isso, ao que nos parece, um consenso está longe de ser alcançado.
No início deste mês, em outra matéria da revista Carta Capital que questionava “Ser gay é pecado?”, Gondim voltou a falar sobre a questão homossexual. Sua declaração pareceu ambígua:
“A Bíblia, infelizmente, tem sido usada para defender quaisquer posicionamentos, desde a escravidão (sobram textos que legitimam a escravatura) ao genocídio. Como o sexo é uma pulsão fundamental da existência, o controle sobre essa pulsão mantém um fascínio enorme sobre quem procura preservar o poder. Assim, o celibato católico e a rígida norma puritana não passam de mecanismos de controle. O uso casuístico das Escrituras na defesa de posturas consideradas conservadoras ou ‘ortodoxas’ não passam, como dizia Michel Foucault, de instrumentos de dominação”.
Sem tomar posição sobre ser ou não ser pecado (a pergunta levantada pela revista), ele se exime de uma declaração teológica, optando por tratar o assunto dentro da esfera das “relações de poder”.
O pastor Zwinglio Rodrigues, por exemplo, não acredita ser esse o caminho mais indicado. Questionado pelo Gospel Prime sobre a declaração de Gondim, escreveu:
“Para o já falecido Foucault, a temática sexo demonstra de forma cristalina o interesse de um dado poder político [o qual chamo aqui de xy] em condicionar o comportamento e a conduta do sujeito. A partir disso, dá-se uma super-repressão dominadora que objetiva satisfazer os interesses do poder político xy. A isso é dado o nome de biopoder.
Quando Gondim fala sobre ‘o uso casuístico das Escrituras na defesa de posturas consideradas conservadoras ou ‘ortodoxas’, ele acusa os cristãos conservadores de ser o poder político xy. O interesse desse grupo é a [suposta] manutenção do status quo na visão ‘gondiniana’. Eu discordo frontalmente dessa conclusão.
Nossa abordagem do assunto parte do ensino claro das Escrituras, coisa que, em minha opinião, o senhor Gondim já abandonou a muito tempo. Não há projeto de poder por trás do nosso discurso. O que existe é fidelidade a textos como Romanos 1:24-27 que desaprova a prática homossexual e demonstra o estado de pecado dos praticantes do homossexualismo que precisam se reconciliar com Deus através do Mediador Jesus Cristo. Essa conversa sobre dominação, nesse caso, não passa de um papo sociológico que não respeita a Bíblia. Definitivamente, nosso interesse nada tem a ver com repressões e dominações, mas com a libertação dos cativos pelo conhecimento da Verdade [Jo 8:32, 36]”.
Certamente entre os evangélicos brasileiros existe quem tome um partido ou outro. Como em tantas outras questões, não há uma posição única no meio protestante. O que parece ser a questão principal é como a interpretação de textos bíblicos usada até hoje continuará sendo ensinada.
No momento em que as autoridades governamentais passam a reconhecer a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo, resta às igrejas apenas ensinar a maneira como cada uma crê. O grande dilema de nossos tempos, evidenciado mais uma vez nessa matéria da revista, é que as vozes dissonantes dentro da igreja evangélica mais confundem do que esclarecem os “de fora”.
Ao mesmo tempo em que há pastores e pastoras defendendo que uma pessoa não precisa mudar de opção sexual, outros tantos não abrem mão de lembrar a necessidade de um novo nascimento.
Quando uma revista secular se dispõe a perguntar a cristãos de diferentes tradições se “Ser gay é pecado?” e ouve ao mesmo tempo, “sim”, “não” e “depende”, é sinal de que o conceito de pecado já não é mais o mesmo para os evangélicos brasileiros.
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