Maioria dos católicos discorda dos ensinamentos da igreja
Pesquisa de âmbito mundial revela contrastes entre os diferentes continentes
Uma pesquisa ampla feita com católicos de várias partes do mundo, encomendada pela rede de TV Univision revelou que um grande número de católicos discorda com os ensinamentos da Igreja sobre temas controversos como contracepção, aborto e casamento gay.
Foram entrevistados 12.048 católicos, que vivem em 12 países de 5 continentes e falam 9 línguas diferentes. Pelo menos 1.000 entrevistas foram realizadas em cada país com os resultados da amostragem apresentando um erro de mais ou menos 3,5% para cada país A margem de erro global é de 0,9 por cento para cima ou para baixo e seus realizadores garantem 95% de confiança.
A análise constatou que, entre os assuntos abordados, o ensinamento oficial do Vaticano sobre contracepção é o que está mais distante do pensamento dos católicos, pois 78% apoiam o controle de natalidade com métodos artificiais (ex: camisinha, pílula).
A maioria (58%) desacorda da afirmação: “Uma pessoa que se divorciou e casou novamente fora da Igreja Católica, está vivendo em pecado, por isso deve ser impedida de receber a comunhão.”
Os entrevistados estavam bastante mais divididos sobre a permissão para os padres católicos se casarem (50% eram favoráveis) e se as mulheres poderiam ser ordenadas para o sacerdócio (45% de apoio). Por sua vez, 65% disseram que o aborto deveria ser permitido “em todos os casos” e 57% acreditam que “em alguns casos” (ex: se a vida da mãe estiver em perigo), e apenas 9 % acredita que deveria ser proibido em todos os casos. Sobre o tema do casamento gay, dois terços dos católicos entrevistados concordam com líderes da igreja.
A pesquisa do Instituto Bendixen & Amandi International foi reproduzida em diversos jornais conceituados como o Washington Post (EUA), El País (Espanha) e La Repubblica (Itália) revela grandes divisões entre os cerca de 1,2 bilhão de católicos do mundo.
Entrevistados dos países africanos, por exemplo, revelaram-se mais conservadores, com respostas mais próximas dos ensinamentos da Igreja. Por exemplo, os africanos concordam mais com a posição do Vaticano. Por outro lado, mais de 90 por cento dos católicos na Argentina, Colômbia, Brasil, Espanha e França apoiam o uso de anticoncepcionais. Os menos inclinado a apoiá-lo estavam nas Filipinas (68%), Congo (44%) e Uganda (43%. Nos Estados Unidos, 79% apoiam o uso de anticoncepcionais.
No tocante ao aborto, em Uganda, 64% dos católicos disseram ser contrários, enquanto na França, 94% acreditavam que as mulheres podem interromper a gravidez. A maioria dos entrevistados europeus e norte-americanos é contra a proibição da ordenação de mulheres, em contraste, a maioria dos entrevistados de Uganda, Congo, México e Filipinas é favorável.
A pesquisa também mostrou que 66% dos católicos se opõem ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, variando de 99% em Uganda até 27% na Espanha. Esta questão mostrou ser, na mádia global, o tema que a maioria ainda concorda com a doutrina da igreja.
Outro elemento da pesquisa foi o desempenho do primeiro ano de pontificado do papa Francisco. Oitenta e sete por cento dos católicos de todo o mundo disseram ele está fazendo um excelente (41%) ou bom (46%) trabalho.
José Casanova, sociólogo de religião na Universidade de Georgetown., foi consultado pelo Washington Post e fez a seguinte análise. “Qualquer mudança [no Vaticano] seria uma tarefa complexa, pois os católicos estão indo em muitas direções… Se trata de ver quais são os sinais de Deus e quais são apenas uma moda. Este é um empreendimento teológico muito difícil, uma espécie de nova forma de tentar compreender a situação da Igreja no mundo”. Observou ainda que os católicos no Brasil, o país com a maior população católica do mundo, rejeitam amplamente alguns ensinamentos essenciais da Igreja, mas estamos vendo uma onda de homens se tornando sacerdotes, pela primeira vez em décadas. Católicos filipinos, explica Casanova, apoiam os ensinamentos da Igreja sobre algumas questões sociais, mas têm uma fé poderosamente carismática que não está focada em estar em sintonia com os líderes da igreja.
Esse tipo de análise não é nova para o Vaticano, que no ano passado publicou a sua própria pesquisa para tentar avaliar, mundialmente, as atitudes dos fiéis. No início do mês, bispos disseram, na Alemanha, que os resultados mostraram que a maioria dos católicos discorda da postura da igreja em relação ao controle de natalidade artificial, sexo antes do casamento, homossexualidade e a comunhão para divorciados que se casam novamente. Em outubro de 2013, Francisco chamou os bispos a Roma para um sínodo extraordinário, o terceiro da história, para discutir como a igreja deveria responder “no contexto dos desafios que as famílias estão enfrentando hoje”, onde várias dessas questões foram analisadas.
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