No dia 24 de abril, sexta-feira, dois homens armados invadiram pela porta da frente a casa de Emilse Maria Del Carmen procurando por seu marido, Jose Rodriguez. Ela foi baleada imediatamente, pois tentou proteger o marido. Emilse foi atingida oito vezes e Jose seis vezes. Eles não conseguiram sobreviver aos tiros. Um dos assassinos também foi baleado e morreu.
Naquela sexta-feira, Jose e a esposa Emilse haviam decidido ficar em casa e não frequentar o culto na igreja Assembleia de Deus na cidade La Esmeralda. Ele e a esposa eram líderes da denominação na região que moravam.
Jaime, pai de Jose, que também é cristão, testemunhou a morte do próprio filho e da nora. Ele não conseguiu explicar porque o filho teria inimigos. Assim que o assassino sobrevivente fugiu, os pais de Jose levaram seu corpo e de sua esposa até o pronto-socorro mais próximo, dali eles foram transferidos para um hospital em Saravena, no qual chegaram cerca de 20h. Eles ainda respiravam, mas tinham poucas chances de sobreviver. Os médicos tentaram de tudo por várias horas, mas nenhum dos dois resistiu.
Assim como acontece com muitos dos ataques e assassinados na região, nada foi publicado sobre o incidente, nem na televisão ou no rádio local.
Jose trabalhava em sua igreja local e periodicamente viajava para ministrar às comunidades indígenas de Tunebo em El Viagia, região que acompanha o Rio Arauca. Sua esposa, Emilse, era uma das líderes de jovens da igreja.
A filha de nove anos, Heidy, viu as feridas dos pais antes deles serem levados para o pronto-socorro. Aquela era a última vez que veria os pais vivos. Foi uma cena que ela se relembra com muita dor, mas tenta esconder. Ela não estava em casa quando os atiradores chegaram. Ainda assim, ela não consegue esconder dos avós a tristeza que sente. Eles também são membros da igreja de Jose.
Ela disse: “Agora meus pais estão no céu com Jesus e com meus avós”. A irmã, Ambar Gricet (dois anos de idade), e o irmão Juan Jose (dois meses de idade), ainda não compreendem o que aconteceu. Heidy sabe que um dia terá que contar a eles porque é que os pais nunca mais poderão segurá-los nos braços. Seus pais e avós viviam na mesma casa na cidade de La Esmeralda e compunham uma família bem conhecida não somente na igreja, mas também na comunidade, por causa da dedicação que tinham à causa de Cristo.
Os avós e as três crianças terão que sobreviver através da pequena mercearia que é parcialmente suprida com os produtos que eles mesmos cultivam em uma fazenda fora da cidade.
Tanto Jose quanto Emilse tinham todo um passado com um grupo paramilitar. Jose era o encarregado do recrutamento e da propagação da ideologia política, mas ele havia deixado o grupo havia oito anos. Emilse trabalhou para um grupo na cidade, mas já estava afastada por mais de cinco anos. Ambos nunca haviam recebido ameaças, mas isso já havia acontecido com alguns outros ex-soldados que tinham se convertido. Os avós acreditam que a posição que ostentavam de líderes da igreja gerava um risco de vida muito maior do que apenas o fato de que no passado tivessem ligação com grupos paramilitares.
Os grupos guerrilheiros têm ameaçado e atacado pastores e comunidades cristãs que não seguem as regras que eles impõem à região. Jose visitava a comunidade de Tunebo, que é uma das mais fechadas ao evangelho. Os habitantes da região o recebiam muito bem e eram discipulados por ele através da Palavra de Deus. Entretanto, Jose estava violando uma das regras daqueles grupos paramilitares que proibia o proselitismo religioso entre os indígenas.
Marcha em protesto e busca por justiça
As mortes violentas de Jose e Emilse chocaram as pessoas desta cidade e as incitaram a fazer algo. No dia 10 de maio, os pastores e cristãos da região fizeram uma marcha pacífica pela cidade para pedir por justiça e pelo fim dos assassinatos de pessoas inocentes. Todas as denominações, em parceria com diversos grupos seculares e empresas, estiveram representadas no protesto para mostrar a unidade que têm. Eles estavam indignados e queriam mostrar suas objeções a esses assassinatos. Até a mídia local transmitiu o evento, fazendo com que as pessoas vissem que o casal morto era formado por duas pessoas honestas, que somente fizeram o bem para a cidade e para a sociedade, e que isso não pode ser esquecido.
O pastor Fidel Montañéz, da igreja Assembleia de Deus em La Esmeralda, disse: “As marchas não mudam o coração dos paramilitares, mas esse é um ato público que mostrará o passo inicial que foi tomado em La Esmeralda, porque nossos irmãos têm sido mortos não somente aqui, mas no estado inteiro”.
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